31 de dezembro de 2021

O(s) relato(s) da criação em Gênesis

Algumas histórias narradas no livro de Gênesis são amplamente conhecidas em nossa cultura. De todas, certamente a história de um grande dilúvio que teria dizimado quase todos os humanos e animais e, sobretudo, o relato da criação do mundo por um único deus, são as que possuem maior penetração no imaginário popular. Com o desenvolvimento dos estudos bíblicos no âmbito das ciências humanas, muitos pesquisadores têm investido na identificação dos processos de produção e disseminação dos textos bíblicos.

A respeito do Gênesis, podemos afirmar que não se trata de um trabalho realizado por apenas um autor, tampouco que foi produzido integralmente em uma mesma época. O livro é um compilado de relatos provenientes de, no mínimo, duas tradições distintas, amplamente conhecidas como “Sacerdotal” e “Javista”. É importante entendermos essa característica do Gênesis, pois ela afeta diretamente nosso entendimento a respeito do relato da criação pois, apesar de ter chegado até nós através de uma tradição milenar que considera a existência de uma cosmogonia singular, o fato é que o que lemos nos primeiros dois capítulos de Gênesis são dois diferentes relatos a respeito da criação por um deus. O primeiro relato (que identificaremos nesta análise como G1) está narrado entre Gênesis 1,1 e 2,4a, e o segundo (G2) começa em 2,4b e se estende até o final do capítulo 2.

Cronologicamente, G2 é um texto mais antigo, de tradição Javista, e teria sido escrito entre os séculos X e IX a.C.. O texto de G1, Sacerdotal, é mais recente, tendo sua origem no século VI a.C., durante o exílio babilônico.

G1 inicia-se com “No princípio, Deus criou o céu e a terra”. De acordo com Lambert (2008, p.15), a tradução mais adequada do texto hebraico seria algo como “Quando Deus começou a criar o céu e a terra”. Desse modo, a tradicional leitura de Gênesis 1,1 como uma creatio ex nihilo, não é mais do que especulação teológica, sem qualquer relação com o sentido dado pelo autor. Cabe observar que o texto de G1 diz que Elohim criou o céu e a terra, mas não há menção à criação da água, cuja superfície era agitada pelo sopro (ruah) de Elohim no versículo 2, o que corrobora a afirmação de Lambert.

Outro ponto que merece especial atenção nesse versículo, sobretudo por ser um dos aspectos que distinguem G1 de G2, é o fato de que em G1 a divindade é nomeada como Elohim, enquanto em G2 ela recebe o nome de Yahweh. Ainda neste primeiro versículo, merece atenção a utilização do verbo hebraico bara para descrever o processo criativo de Elohim, pois esse verbo é utilizado apenas durante a criação do céu e da terra e, no final da narrativa, durante a criação do ser humano (haadam). De forma geral, em G1 o poder criativo de Elohim é manifesto através de palavras: “haja luz”, “que a terra verdeje de verdura”, “que haja luzeiros” etc. Em G2, por outro lado, Yahweh é descrito como um ser mais pessoal, que cria com as mãos e passeia pelo Jardim do Éden ao lado de sua criação.

O fato de G1 ter sido produzido durante o exílio é importante para explicarmos sua organização narrativa, pois ela é feita como uma espécie de resposta monoteísta a outras cosmogonias mesopotâmicas, especialmente ao mito babilônico conhecido como Enuma Elish. Destacamos duas diferenças entre G1 e o relato da criação em Enuma Elish que demonstram a influência do mito babilônico sobre a resposta do autor sacerdotal de G1.

A primeira diferença diz respeito ao processo da criação. Enquanto o mito babilônico descreve um embate entre deuses, que culminaria na criação do ser humano a partir do sacrifício de um deus, o mito de G1 atribui a criação à ação de um único deus. Outra questão muito importante, que demonstra como G1 é uma resposta a Enuma Elish, diz respeito às motivações para a criação do ser humano, sobretudo relacionadas ao trabalho. No Enuma Elish, o trabalho era realizado por deuses de uma categoria inferior, o que gerava relações conflituosas com os deuses que não trabalhavam. A criação do ser humano daria fim a esses conflitos, pois o trabalho dos deuses menores passaria a ser realizado pelo homem. G1 descreve toda a criação no decorrer de seis dias, sendo o ser humano criado no sexto dia. No sétimo dia, Elohim descansou, ato simbólico que seria assimilado pelos seus autores como legitimação para a necessidade de um descanso semanal.

G2 não se prende em detalhes a respeito da criação “da terra e do céu”. A narrativa se inicia no tempo em que Yahweh “não tinha feito chover sobre a terra e não havia homem para cultivar o solo” (Gn 2,6), e é focada na criação do homem e da mulher. Nesse relato, Yahweh cria primeiramente o homem a partir do barro (ou argila), e a mulher teria sido criada em um segundo momento, moldada a partir de uma costela que Yahweh retirou do homem. Não há, nesse texto mais antigo, nenhuma referência a um processo de criação em seis dias. G1, por outro lado, está focado justamente nesse processo criativo que se encerraria com o dia em que Elohim descansou. Não há, para o autor sacerdotal, a necessidade de diferenciar a criação do homem da criação da mulher, conformando-se com a afirmação de que “Deus criou o homem à sua imagem e semelhança [...] homem e mulher ele os criou” (Gn 1,27).


Observação: Todas as citações são da Bíblia de Jerusalém, edição de 2002.


Referência

LAMBERT, Wilfred G. Mesopotamian creation stories. In: GELLER, Markham J., SCHIPPER, Mineke (ed.). Imagining creation. Leide: Brill, 2008. p.15-59.

 

 

6 de novembro de 2018

Sobre a inutilidade dos dialetos secretos

"Eita, terra!! Esse varão é sapato de fogo! O homem de branco vai usá-lo e, através dele, vai amassar muitos vasos aqui esta noite! O vento vai soprar e vai ter muita ovelha restaurada neste lugar!"

Esse é um "dialeto secreto" pentecostal. Há muitas outras palavras e expressões como "decai", "labaredas", "brado", "derramamento", "cobrir com sangue", "pão vivo" e "vigia" que poderiam ser usadas num diálogo entre pentecostais. Há um personagem que ficou famoso na internet que usa uma gíria pentecostal como sobrenome: Jacinto Manto. É difícil explicar o que significa "manto", mas quem é pentecostal entende!

A questão do ENEM que usou um "dialeto secreto" da comunidade LGBT gerou polêmica simplesmente porque somos bastante homofóbicos. A questão, que eu li, interpretei e respondi corretamente não é sobre gays! É sobre interpretação de texto e noções de linguística. O foco é a linguagem e não seus usuários.

Poderiam ter usado o exemplo do "dialeto pentecostal", como o que usei acima e a questão teria o mesmo efeito teórico, mas não o mesmo efeito social. A questão seria lida pela maioria das pessoas sem qualquer alarde e, provavelmente, repercutiria apenas dentro dos meios pentecostais. Dificilmente seria notícia.

Há muitas culturas no Brasil, com suas próprias manias, maneirismos e gírias. Estaríamos bem servidos no ENEM com qualquer "dialeto secreto", como o dos cearenses, dos gaúchos, dos manos do Capão e da ZL, dos geeks, dos publicitários, dos jogadores de Magic, dos músicos, dos funkeiros, dos juristas etc. Escolheram um dialeto gay e a questão cumpriu seu objetivo.

O ENEM fez seu papel de procurar estudantes antenados, capazes de ler um texto e o interpretar, e de entender minimamente que existe uma língua formal que é diferente da multiplicidade de falares populares que se desenvolvem na complexidade das relações sociais. O aluno que pretende ingressar num curso de Letras, Ciências Sociais, Filosofia, História, Geografia, Psicologia, Pedagogia, Jornalismo, Enfermagem e até num concorrido curso de Medicina, precisa entender esse tipo de coisa.

Engana-se quem acha que a questão tratou de tema sem utilidade.

11 de abril de 2018

Senhor - Devolvei minha fé, debilitada

 


Senhor

Devolvei minha fé, debilitada
Por não vencer as lutas que combato;
Não me lamento e nem vos desacato,
Tenho tido uma vida abençoada,

Mas o destino, em franco pugilato,
Prepara, aqui e ali, nova emboscada
Que finta a frágil fé amedrontada,
E destarte o concreto faz-se abstrato.

Que o que me resta tenha conteúdo,
Que eu diga adeus, no fim, com desassombro
E diga ao desafeto: eu te saúdo...

Que eu não perca ante vós o meu assombro,
Mas rogo que, acima disso tudo,
Vossa mão permaneça no meu ombro.

24/11/2014 - Isaac Bardavid
In: “Versos Adversos"

30 de março de 2016

A religião que Deus aceita como pura e imaculada é esta



Admiro pastores que conseguem trabalhar em suas comunidades a noção de que é missão da Igreja tornar o mundo um lugar mais justo. Infelizmente, alguns desses pastores que admiro são criticados por outros pastores que também admiro sob a alegação de que são marxistas.

Não importa quantas vezes esses pastores digam que seu referencial é a Bíblia (nos Profetas, em Jesus e nos Apóstolos), sempre somos transportados para a Guerra Fria pela máquina do tempo do preconceito que os cristãos desenvolveram com movimentos que se convencionou associar a um pensamento político de esquerda.

Sim, eu sou cristão e sou de esquerda. Não, não quero roubar dinheiro dos ricos, não quero um governo opressor, não quero atraso tecnológico, não quero um país sem liberdade, não quero me ajoelhar diante da estátua de um líder político.

Mas sim, sonho com um mundo mais justo, onde as pessoas sejam bem tratadas e tenham suas individualidades respeitadas, onde o patrão não lance mão do assédio moral para manter os funcionários trabalhando por salários miseráveis, onde todos tenham condições de viver com dignidade, comendo o suficiente, se divertindo, tendo boas escolas, bons hospitais sem que precisem se preocupar se podem ou não pagar por eles.

E sonho com um dia em que as igrejas não serão apenas prédios de pessoas barulhentas, mas locais de referência no seu bairro, conhecidos pelos não crentes pelo trabalho filantrópico e não pela exploração da fé de pessoas desesperadas.

O texto abaixo é um trecho da Bíblia (Epístola de Tiago, tradução NVI). Alguns me diriam que é "marxismo". Pra mim, é cristianismo.

"A religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo. Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com favoritismo. Suponham que na reunião de vocês entre um homem com anel de ouro e roupas finas, e também entre um homem pobre com roupas velhas e sujas. Se vocês derem atenção especial ao homem que está vestido com roupas finas e disserem: "Aqui está um lugar apropriado para o senhor", mas disserem ao pobre: "Você, fique de pé ali", ou: "Sente-se no chão, junto ao estrado onde ponho os meus pés", não estarão fazendo discriminação, fazendo julgamentos com critérios errados? Ouçam, meus amados irmãos: não escolheu Deus os que são pobres aos olhos do mundo para serem ricos em fé e herdarem o Reino que ele prometeu aos que o amam? Mas vocês têm desprezado o pobre. Não são os ricos que oprimem vocês? Não são eles os que os arrastam para os tribunais? Não são eles que difamam o bom nome que sobre vocês foi invocado? Se vocês de fato obedecerem à lei real encontrada na Escritura que diz: "Ame o seu próximo como a si mesmo", estarão agindo corretamente. Mas se tratarem os outros com favoritismo, estarão cometendo pecado e serão condenados pela Lei como transgressores. Pois quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente. [...] De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: "Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se", sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: "Você tem fé; eu tenho obras". Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras. Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios crêem — e tremem!" (Tiago 1:27; 2:1-10; 2:14-19)  

28 de fevereiro de 2016

Examinem tudo, fiquem com o que é bom



"Examinem tudo, fiquem com o que é bom". Esse conselho foi dado pelo Apóstolo Paulo em sua Primeira Carta aos Tessalonicenses (I Ts 5:21). Quase dois milênios depois, cresci num contexto de proibições, quase sempre sem explicações ou com explicações pouco plausíveis.

Não beba! Não fale palavrões! Não use bermudas! Não vá ao cinema! Não faça tatuagens! O índex de proibições era grande e não tenho a intenção de discuti-las aqui, até mesmo porque muitos "não podes" já caíram em desuso e tantos outros estão sendo abandonados ou repensados.

Há, no entanto, uma restrição a que somos submetidos, sejamos religiosos ou não e que não tem origem em terceiros. Nós mesmos nos boicotamos em diversas situações pela não observância do conselho de Paulo: "examinem tudo".

Lemos notícias falsas e as espalhamos. Por causa delas, entramos em discussões infindas, ofendemos pessoas, criamos abaixo-assinados, proclamamos teorias conspiratórias que não resistem a poucos minutos de exame. Aceitamos o que nos foi dito passivamente, sem reflexão, sem busca por fontes que possam comprovar ou refutar o que recebemos. Nos sabotamos!

Não pense! Não pesquise! Não leia tudo, pois o título já diz o que você precisa. Comente com base nas suas conclusões ao ler o título. Nunca ouça uma música cujo estilo não te agrada. Não assista um filme que defende bandeiras diferentes das suas. Na escola, não estude temas que contrariem sua visão de mundo.
Sempre fui curioso e tenho uma irritante mania de duvidar. Já tive problemas por causa disso. Contudo, por duvidar, já me livrei inúmeras vezes do constrangimento de espalhar mentiras. Aprendi muita coisa interessante, fiz novos amigos e me aproximei ainda mais de pessoas muito queridas por conseguir enxergá-los por uma perspectiva que seria impossível mantendo minhas próprias proibições.

Com isso em mente, chego ao meu mais recente objeto de exame e com boas coisas a reter. Se chegou até aqui, tenha paciência comigo e continue lendo!!!

No final de 2015, vi uma postagem feita no Facebook por uma amiga. Tratava-se do link de um vídeo e um comentário mais ou menos assim: “clique no link e deixe seu deslike”. O título do vídeo, sem o “examinem tudo” me sugeria um motivo para a postagem: “Meu Corpo, Minhas Regras - Olmo e A Gaivota / My Body, My Rules - Olmo and The Seagull”. Imediatamente, acreditei que ela pedia o deslike apenas por se tratar de um discurso pró-aborto. “Que radical essa minha amiga!”, exclamou meu lado sabotador. “Vamos assistir ao vídeo inteiro?”, sugeriu meu lado examinador.

Vendo o vídeo inteiro, percebi que o que a incomodou não foi necessariamente a mensagem pró-aborto, mas um desnecessário e infeliz trecho que questiona a virgindade de Maria, dogma tão caro ao cristianismo. Minha opinião sobre o aborto é diferente da exposta no vídeo, mas não teria me incomodado com ele sem a menção a Maria. Achei gratuito, desrespeitoso e absolutamente desnecessário para o propósito do vídeo que, além da defesa da descriminalização do aborto, faz parte da campanha publicitária do filme “Olmo e a Gaivota”.

No momento em que escrevo, o vídeo possui mais de 1 milhão e meio de visualizações e mais de 80% de desaprovação. O trailer do filme, postado no mesmo canal, possui semelhante desaprovação e uma enxurrada de comentários raivosos de pessoas contrárias ao aborto. Eu poderia ser mais uma dessas pessoas, mas escolhi examinar. Dei um tiro no escuro e comprei o DVD do filme. Só assistindo ao filme eu poderia dar meu parecer.

Assistindo ao filme, percebo como as pessoas gastam energia entregando-se à ignorância. Fazem campanhas por deduções infundadas. Proíbem a si mesmos de apreciar o que é bom porque não seguem o conselho de Paulo. Além de uma peruca azul, o filme não tem muito a ver com o vídeo da campanha publicitária. Em nenhum momento o filme fala em aborto. Ao contrário do vídeo do YouTube, gostei bastante do filme. Foi uma grata surpresa e um tapa na cara do meu lado sabotador. Vitória para o meu lado examinador!

Olmo e a Gaivota nos coloca na mente de uma mulher que vê seus sonhos se desfazendo diante de uma gravidez de risco. As transformações do corpo e as privações que lhe são impostas pela gestação fazem-na mergulhar em conflitos consigo, com sua profissão, com seus relacionamentos, com sua capacidade de ser mãe, com suas escolhas.

Apesar de não ser um filme irretocável, acerta em nos tornar espectadores desses conflitos. O cinema, a novela e, mesmo pessoas próximas a nós, tendem a nos mostrar sempre o lado sorridente da gravidez e da maternidade. Olmo e a Gaivota nos mostra um lado que nos omitem, sejam pessoas que não sofreram ou, talvez, pessoas que têm vergonha de confessar que nem tudo é bonito quando se tem uma pessoa crescendo dentro do seu corpo.

24 de fevereiro de 2016

Ainda sou o mesmo

Ainda sou o mesmo e vivo em minha pior versão, em minha pior tradução. Impaciente, desistente, desanimado, desesperançado, entediado, cínico, indiferente, cético e, sobretudo, desatento. Desatento para com Deus, para com a vida, para com a existência. Não é possível que, entra ciclo e sai ciclo e eu continuarei o mesmo. Tristemente o mesmo, tediosamente igual.
(Adaptação da mensagem "Um Novo Ciclo", de Levi Araújo, publicada em 30/01/2016 em http://ibab.com.br/mensagens/mensagem/um-novo-ciclo)

11 de março de 2013

Malafaia de frente com Gabi

Quando vi a chamada do programa “De Frente com Gabi” com Silas Malafaia, tive maus pressentimentos! Particularmente, há alguns anos venho alimentando em mim uma certa ojeriza pelo discurso do Silas, sobretudo no que diz respeito à Teologia da Prosperidade. Como eu esperava, o tema foi tratado durante o programa e, sem surpresas, ele defendeu suas pregações de prosperidade com todo tipo de malabarismo “teológico”.

Mas o foco do programa não era esse. De forma estratégica, os responsáveis pelo programa usaram a maior parte do tempo em questões relacionadas à homossexualidade e ao papel do